1.08.2007
[url] http://angolaharia.blogspot.com/2007/08/mrio-matadidi-o-revolucionrio.html
“Luanda, 28/07 - A colectânea discográfica "Memórias", de Mário Matadidi, está hoje à venda defronte ao complexo desportivo Manuel Berenguel, na Rádio Nacional de Angola (RNA), em Luanda, com a presença do artista, que procede à assinatura de autógrafos.
Neste CD, editado em Portugal através da Ngola Music Produções, constam, entre outras músicas, "Paciência", "Um minuto de silêncio" e "Volta Camarada", esta última feita em memória do primeiro presidente de Angola, António Agostinho Neto, falecido em 1979.”
“Luanda, 29/07 - O primeiro-secretário do MPLA em Luanda, Bento Bento, destacou hoje, na capital do país, o empenho e dedicação do cantor angolano Mário Matadidi em prol da divulgação da música nacional nos anos 70 e 80 além fronteiras”, considerando “que as mensagens das músicas de Matadidi continuam vivas e válidas no contexto actual da sociedade angolana. […]
Mário Matadidi nasceu em 1942, na província do Uíge, e começou a cantar na década de 1960. Entre 1961 e 1975 viveu no Zaíre, actual República Democrática do Congo.
Apesar de não ter gravado muitos trabalhos discográficos, fundou em 1972, o trio Madjesi, no ex-Zaire, e fez parte do agrupamento angolano Merengues.
Depois do Zaire, o músico residiu em Paris, França, durante 14, regressando definitivamente a Angola em Fevereiro de 2005.”
Folgo imenso por esta homenagem a MM, principalmente pela sua enorme evolução, a acreditar no que leio, durante estes quase 30 anos em que nos mantivemos desligados.
Devo esclarecer que mantive com o MM, no final da década de 70, uma acérrima atracção sem nunca termos trocado uma palavra. Isto devia-se não à relação fã/ídolo mas antes à atracção dos opostos.
Nunca atinei com “o espectáculo” MM por duas razões principais:
1. porque não era aquilo que se apregoava – música angolana – mas uma muito bem explorada coreografia kitsch acompanhada de música zairense;
2. porque prezo muito as palavras que se cantam.
Para ilustrar o ponto 2. passo a transcrever a lírica de uma das suas canções então mais em voga:
“café, café, café
colhendo café
café, café, café
colhendo café
café, café, café”
colhendo café
café, café, café
colhendo café
café, café, café”
Vivia eu – penso que em 1978 – na cidade do Uije, quando o MM resolveu dar um espectáculo no pavilhão do F.C. do Uije, na época da colheita do café – precisamente!
Por essa altura eu mantinha, no Rádio Clube do Uije, um programa – o “Nocturno” – onde as boas canções (e, pelos ecos recebidos, não eram boas apenas para mim) eram acompanhadas por algumas palavras a condizer.
É bom de ver que comentei no “Nocturno” o espectáculo do MM, à maneira do que acabo de expor.
Na manhã seguinte acordei com a musicalidade “toc-toc-toc” à porta de casa. Escancarei a entrada a uma Embaixada de membros do Partido que pretendia desagravar a imagem do MM, tão maltratada no programa.
Defenderam e pretenderam demonstrar-me que o MM era um grande músico – e daí? – que eu não entendia nada de música angolana – eles sim, eram o supra-sumo – que o MM era um Revolucionário e que eu não passava de um grande Reaccionário e de um reles Contra-revolucionário.
Tudo visto, aprendi:
1. que ser Revolucionário era trautear o “café-café-café”;
2. que tudo aquilo que eu então fazia na cidade – ajudar as populações a defender-se dos oportunistas-arrivistas donos de pequenos-grandes poderes, criando cooperativas de consumo sectoriais para que o povo conseguisse ter acesso aos géneros alimentícios das Casas Ditas do Povo – e no campo – organizando os pequenos agricultores em cooperativas de produção, principalmente para troca de produtos agrícolas por géneros alimentares não produzidos nas lavras – isso era a pura Reacção – numa altura em que o que se topava logo ao sair de casa era, invariavelmente, a Senhora Dona fome – isso era a mais acabada forma de Contra-revolução.
O certo é que a Embaixada do Partido falou, refalou, voltou a falar e, principalmente, deu-me muitos e bons conselhos.
Dessa vez nada mais me aconteceu. No entanto fiz tábua rasa dos bons conselhos, o que acontece sempre que se trata de exprimir o que sinto - ontem, hoje e amanhã.
Não foi daquela… mas foi de outra vez. Bati com os costados nos calabouços da DISA (não por causa, directa, do MM), desconseguiram derrotar-me, bazei para não ter que ouvir mais conselhos e imposições mas continuo, teimosamente, a dizer aquilo que penso.
Só não digo mais nada sobre o MM porque, a crer no que leio, o músico encetou uma tão grande evolução que valeu o seguinte comentário:
“Ele escreveu músicas que marcaram os anos 70 e 80, principalmente de cariz interventivo e que acompanharam as várias fases de transformação de Angola.” (Bento Bento)
Banzei!
admário costa lindo
créditos da imagem e citações: Angop
comentários:
Ju disse...
Deixa lá, Admário, as coisas hão-de mudar um dia (às vezes ainda acredito...)e tu, continua como és. Graças a ti, poupo esforços e algum dinheiro: sempre que oiço falar num CD de músico(s) angolano(s) procuro conseguir comprar e ouvir - depois do que li, MM, não!
4/8/07 6:08 PM
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