MALANGATANA VALENTE NGWENYA
A coruja
A coruja agoira-me
e diz-me que nunca chegarei
além onde o desejo me leva
e assim evapora-se o sonho;
O tambor foi tocado
na noite densa do feitiço
enquanto Kokwana Muhlonga
apitava o Kulungwana mortal;
Na noite sem estrelas
dois gatos pretos iluminaram
a cabana da Kokwana Hehlise
que morreu depois dos gatos terem miado.
Eu lutando comigo só
é impossível vencer as ondas
que feitiçeiramente me esboçam
as corujas, gatos e tambores.
A Mamã preocupada
Nos teus braços eu fiquei
quando me nasceste muito preocupada
quem estava aflita
naquela altura perigosa
com o receio de que Deus me vai levar?
Tudo em silêncio olhava
para ver se o parto corria bem
tudo lavava as mãos
para poder receber quem vinha dos Céus
e toda a mulher quieta e aflita
Mas quando afastei-me
do lugar em que me guardaste durante longo tempo
dei logo o primeiro respiro
tu gritaste logo de alegria
o primeiro beijo foi o da Avó
Que levou-me logo para o lugar
que me guardaram e é secreto
tudo foi proibido a entrar no meu quarto
porque tudo cheirava mal
e eu todo fresco, fresco
respirava finalmente dentro das minhas fraldas
Mas a Avó que se supunha doida
estava sempre ao meu lado
ver-me e rever-me sempre
porque as moscas vinham ter comigo
e os mosquitos inquietavam-me
Deus que revia-me também
era o amigo da minha Avó velhinha
Amor Verde
Porque o amor não é sempre verde
que bom quando verde é
nem quero que mudes de cor
ó amor verde, verde, verde
ele é tão bom, bom, bom
Na cama quando passei a primeira noite
senti-me feliz quando corria dentro dela
a lágrima que nos fez amigos infinitos
porque dela veio quem nos chama: Papá e Mamã
o nosso primeiro filho, tão lindo, lindo.
Pensar alto
Sim
às marrabentas
às danças rituais
que nas madrugadas
criam o frenesi
quando os tambores e as flautas entram a fanfarrar
fanfarrando até o vermelho da madrugada fazer o solo sangrar
em contraste com o verdurar das canções dos pássaros
sobre o já verduzido manto das mangueiras
dos cajueiros prenhes
para em Dezembro seus rebentos
dançarem como mulheres sensualíssimas
em cada ramo do cajual da minha terra
mas, sim ao orgasmo
das mafurreiras
repletas de chiricos
das rolas ciosas pela simbiose que só a natureza sabe oferecer
mas sim
ao som estridente do kulunguana
das donzelas no zig-zague dos ritos
quando as gazelas tão belas
não suportam mais quarenta graus à sombra dos canhueiros em flor
enquanto as oleiras da aldeia, desta grande aldeia Moçambique
amassam o barro dos rios
para o pote feito ser o depositário
de todo o íntimo desse Povo que se não cala disputando
ecoosamente com os tambores do meu ontem antigo.
6.06.1936 - Matalana, Marracuene, Moçambique
5.01.2011 - Matosinhos, Portugal
de cima para baixo
1.Malangatana
obitpatrol.blogspot.com
2. Tentativas Vitrálicas
1982
Óleo s/ Tela
150x150
3. A Coruja, poema de Malangatana
in "Malangatana, Vinte e quatro poemas", Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lisboa, 1996
4. Sem Título
1992
Acrílico s/ Tela
5. A Mamã preocupada, poema de Malangatana
in o.c.
6. O Juízo Final
1961
Óleo s/ Tela
7. Amor Verde, poema de Malangatana
in o.c.
8. Sem Título
1980
Lápis e Tinta s/ Papel
9. Pensar Alto, poema de Malangatana
in o.c.
1982
Óleo s/ Tela
150x150
3. A Coruja, poema de Malangatana
in "Malangatana, Vinte e quatro poemas", Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lisboa, 1996
4. Sem Título
1992
Acrílico s/ Tela
5. A Mamã preocupada, poema de Malangatana
in o.c.
6. O Juízo Final
1961
Óleo s/ Tela
7. Amor Verde, poema de Malangatana
in o.c.
8. Sem Título
1980
Lápis e Tinta s/ Papel
9. Pensar Alto, poema de Malangatana
in o.c.
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